Artistas

ZULEIKA BISACCHI

Sobre

Zuleika Bisacchi – nascida em São Paulo, tem como foco de suas pesquisas poéticas a fotografia, imagem digital, encáustica, acrílico, instalação e tridimensionais. No final da década de 1990, Bisacchi graduou-se em Artes Plásticas e Educação Artística e, em 2005, tornou-se pós-graduada em Artes Plásticas, ambas titulações pela Faculdade de Santa Marcelina na capital do estado de São Paulo.

Desde sua graduação a artista participa de cursos e workshops com artistas nacionais e internacionais, congressos de fotografia como o Congresso Latino Americano de Fotografia de Estúdio, realizado em São Paulo, entre outros. Concomitantemente, Bisacchi participou tanto de exposições coletivas como individuais, realizadas no Brasil, EUA, França, Espanha e Portugal.

 

Realizações Importantes
2014 – “Visões Urbanas”, coletiva realizada na Editora FTD, São Paulo, SP.
2014 – Salão de Arte A Hebraica, Salão Marc Chagall, São Paulo, SP.
2013 – “Dimensões”, coletiva realizada na Galeria Sergio Caribé, São Paulo, SP.
2012 – Migration Art Expo 2012, exposição coletiva na United Nations Headquarters, New
York, EUA.
2012 –Parte- Feira de Arte Contemporânea, coletiva realizada Paço das Artes, USP, São
Paulo.
2012 –Affordable Art Fair, coletiva realizada na The Tunnel, Chelsea, New York, EUA.
2011 –Atemporal, exposição individual realizada na Galeria Joh Mabe, São Paulo, SP.
2011 – Multidisciplinariedade, coletiva realizada na Casa do Olhar, Santo André, SP.
2011 – Natureza Hoje, coletiva realizada no Museu Florestal Octávio Vecchi – São Paulo, SP.
2011 –Troyart Exposição Internacional, coletiva realizada no Museu Brasileiro da Escultura,
MUBE, São Paulo, SP.
2010 – Diálogos com da Vinci, coletiva realizada no Centro Empresarial de São Paulo, São
Paulo, SP.
2010 –Revisando Duchamp, coletiva realizada na Casa do Olhar, Santo André, SP.
2009 – Artmosfera, coletiva realizada na Galeria de Arte Unimed Paulistana, São Paulo, SP.
2009 –S.O.S, exposição individual na Galeria Área Artis, São Paulo, SP.
2008 –Bosch Medieval, Bosch Contemporâneo, coletiva realizada na Galeria Área Artis, São
Paulo, SP.
2008 – CEM COM CEM SEM, coletiva realizada na Casa das Rosas, São Paulo, SP.
2003 – Materialidade, coletiva realizada na Diretriz Arte Contemporânea, São Paulo, SP.
2003 – Mostra Inaugural, coletiva realizada na Diretriz Arte Contemporânea, São Paulo, SP.
2003 – Memórias Ancestrais, instalação realizada na Capela do Morumbi, São Paulo, SP.
2002 –A Arte do Esmalte sobre Metais, coletiva realizada na Secretaria de Estado da Cultura
de São Paulo, São Paulo, SP.
2002 – Memórias Ancestrais, exposição individual realizada na Pleiades Gallery, New York,
EUA.
2002 –Memórias Ancestrais, exposição individual realizada na Galeria de Arte
Contemporânea, São Paulo, SP.
2002 – Projeto Arte Coleção, coletiva realizada no Estúdio Contempoarte, São Paulo, SP.
2001 –Salão de Arte, coletiva realizada no Tribunal de Contas de Minas Gerais, Belo
Horizonte, MG.
2001 –Salão de Arte, coletiva realizada na Prefeitura Municipal de São Lourenço, São Paulo,
SP.
2001 – IV Salão de Artes Plásticas, Prefeitura Municipal de Mogi Guaçu, Mogi Guaçu, SP.
2001 –Foire de Caen Internacionale, coletiva realizada na Village Brésilien, Paris, França.
2001 –Grande Salão Luso Brasileiro, coletiva realizada Espaço Cultural Fenix, Lisboa,
Portugal.
2001 –Gran Salon Real Madrid, coletiva realizada no Crowne Plaza, Madrid, Espanha.
2001 – International Artexpo of Art, Jacob K. Javis, Convention Center, New York, EUA.
1995 – Mostra Anual, coletiva realizada na Fundação Mokiti Okada, São Paulo, SP.

Textos Críticos

A obra de Zuleika Bisacchi por Rafaella Pacheco

A arte é produto de um contexto¹ , Erwin Panofsky escreveu esta frase pois sabia que a produção de um artista possui em si evidências de seu tempo, sendo incitado pelas experiências sociais e culturais de quem a idealizou. As vivências do artista influenciam em sua obra de arte e, no caso de Zuleika Bisacchi, a artista visual faz de suas experiências trabalhos de arte. Através da fotografia exercita seu olhar, atentando às diferentes possibilidades plásticas que pode registrar e problematizar. Em sua pesquisa poética podemos perceber a discussão a respeito do tempo, memória e significado, presentes em fotografias e instalação.

Não apenas o conhecimento técnico, mas também o instinto e o coração do artista são o diferencial na produção e envolvimento com a obra. Para Bisacchi, o coração está presente em tudo que se envolve, isso transparece em seus trabalhos, havendo ótima receptividade por parte dos observadores. E esta proximidade com o público ocorre pois há uma identificação do observador com as questões levantas pela obra de Bisacchi. Na obra Faces do Peru, as fotografias dão ênfase no rosto dos retratados. A tradicional composição de figura e fundo não existe neste trabalho, pois o que rege é a figura, o elemento predominante do trabalho é o ser, e a artista o coloca independente do que o cerca. Mesmo o título definindo a origem dos retratados, o que predomina no trabalho são as faces, a humanidade e sua beleza não estereotipada.

Faces do Peru, papel algodão, 30×30 cm (cada), s/d.

As fotografias expostas por Bisacchi em Território Sagrado² reforçam a ideia de que as linguagens das artes visuais se entrelaçam na contemporaneidade. Nelas podemos ver discussões de pintura, como citado anteriormente no trabalho Faces do Peru, e também presente na Série Atemporal, as relações de figura e fundo. Temas como espaço e lugar, corpo e tempo também se apresentam em ambos os trabalhos.

Atemporal 07, papel algodão, 60×90 cm, s/d

A Série Atemporal trata do registro de ruínas históricas localizadas na Síria e Jordânia sobrepostas pela imagem translúcida de um corpo feminino nu dançando. A sobreposição se dá com uma colagem de duas situações distintas, uma realizada em ambiente externo e outra realizada em um ensaio fotográfico dentro de um estúdio. O efeito de colagem é reforçado em duas situações: digitalmente, pois há uma sobreposição digital de duas imagens; e naturalmente, em que as fotografias das paisagens arquitetônicas em escala cinza deixaram o céu tão claro que ele se aproximou ao branco do papel fotográfico, dando a sensação de recortes que demarcam a silhueta das ruínas nas partes preenchidas pelo céu. Além da questão formal percebemos a discussão de espaço e lugar, que se apresenta nesta Série em dois territórios que se fundem pelo tempo, o território orgânico do corpo, e o território geométrico da arquitetura. Tanto na dança da modelo como na angulação dos arcos das ruínas, ambas necessitam de equilíbrio para que sua existência perdure.

“A arte existe porque a vida não basta.”³ (Ferreira Gullar)
¹ PANOFSKY, Erwin. O Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1995. (Coleção Debates).
² AZEVEDO, Orlando. Território Sagrado. Curitiba: Diretriz Arte Contemporânea, 2015.
³ ELIAS, Rodrigo; LIMA, Vivi Fernandes. Ferreira Gullar. Entrevista cedida à Revista de História da Biblioteca Nacional. 11 de agosto de 2010.

Rafaella Pacheco
Graduada em Artes Visuais Galeria
Diretriz Arte Contemporânea

Fotografando a fugacidade: revelando a eternidade por Antonio Carlos Fortis

Depois de uma longa trajetória experimental com suportes e linguagens das artes visuais, desde a pintura até a escultura, da encáustica ao objeto e da assamblagem à instalação, a artista plástica e professora de artes Zuleika Bisacchi, chegou à fotografia. E não por acaso.

Na mostra coletiva que antecedeu à presente exposição, a artista expôs a obra com a qual iniciou as suas pesquisas no campo simbólico da fotografia, obra ao mesmo tempo inaugural e paradigmática no conjunto do seu trabalho.

Constituída por trinta e duas imagens fotográficas de barro amassado sobre tela, a obra retrata, na verdade, um processo. O processo de transformação do barro homogêneo, passando pelos momentos de secagem, rachadura e o gradual destacamento da tela até se desprender o último granulo, restando apenas o próprio fundo da tela com uns poucos sinais do barro que antes esteve sobre ela.

Esse trabalho de Zuleika é de um impacto hermenêutico muito intenso. Não é apenas da passagem do tempo que ele dá conta. Tratase de um registro da desaparição, da passagem do que é visível para o que resulta em meros rastros quase invisíveis, da passagem da existência para o inexistente, da consistência para a diluição. Ele revela o nada como substrato último de tudo o que tem visibilidade. Esse trabalho pereniza, por meio da imagem fotográfica, aquilo que todos nós queremos esquecer: a nossa própria provisoriedade, a nossa transitoriedade irremediável, a nossa mortalidade, enfim.

A obra cuja presença estamos evocando só poderia se tornar a fonte das pesquisas que se lhe seguiram. São essas pesquisas que Zuleika apresenta nessa exposição individual. Tudo se passa como se ela tivesse iniciado pelo fim, já que as obras que se seguem àquela primeira são, por assim dizer, a análise de que ela é a síntese estrutural.

O que é extraordinário nessa obra fecunda e poderosa é que ao ‘revelar’ o processo da vida (e da morte), ela revela ao mesmo tempo a própria natureza do ícone fotográfico. De fato, como disse Roland Barthes, a fotografia torna-se o signo de que somos mortais, já que se o real que ela mostra existiu, é porque não existe mais.

No início desse texto declarei que Zuleika Bisacchi chegou à fotografia não por acaso. E, efetivamente, que melhor linguagem haveria para expressar a radicalidade da passagem da transitoriedade para a desaparição absoluta do que a da imagem fotográfica?

Não obstante tudo isso, nas pesquisas subseqüentes da artista, já se enuncia a aparição subliminar de um outro conceito. O conceito de ressurreição, segundo o qual a vida só se extingue para reaparecer em outros termos e com nova pujança. Esse conceito é apresentado magnificamente na foto dos peixinhos nadando na água azul, que se vê na fissura aberta de um solo em processo de desertificação. É a vida reaparecendo esplendorosa e cintilante, exatamente por baixo e por dentro daquela imensa aridez em que a anterior acabou de se extinguir

Antonio Carlos Fortis
Mestre em Ciência Social
(Antropologia Social)

Um fio da alma na amálgama do tempo por Andrés I. M. Hernández

Silêncio e imponência. Uma história demarcada pelo tempo. O mesmo tempo em que estudamos, pensamos e refletimos sobre culturas, tradições… história. E a partir da história e seus desdobramentos, assimilação e projeções, apropriações e releituras, é que se fundamenta a série de fotografias de Zuleika Bisacchi.

Estruturas arquitetônicas carregadas de tempo e fatos constituem o suporte para a construção estética das obras de Bisacchi. Como colocado pela artista, “cada pedacinho tem uma emoção”. E, a partir dessa singularidade emotiva, desdobra-se a pluralidade estética e conceitual das obras produzidas.

Inserida nessas estruturas, a imagem de um corpo feminino indisciplinado, transitando e percorrendo os espaços arquitetônicos, recusando-se a manter uma simetria passiva e moldando-se nas formas geométricas das ruínas, que servem como palco da representação. A imagem do corpo, despida de vulgaridade e intolerância, rebela-se metaforicamente, desde a denominada fragilidade, contra tudo aquilo que a aprisione ou a submeta a regras e estigmas.

O deslocamento sequencial da imagem feminina, na série, simula um véu sutil e irreverente que ao mesmo tempo deixa rastros quase imperceptíveis de presença, como nuvens transparentes invadindo sutilmente estruturas impetuosas e aparentemente imóveis. Movimentos plásticos que interferem e se inserem na cartografia das colunas fálicas. Estruturas arquitetônicas que são cenário e bibliografia da história da humanidade.

A sutileza no deslizamento coreográfico, que a artista articula na inserção do registro da imagem feminina carregada de simbolismo cultural, leva-nos por um percurso silencioso e invasivo, que põe em xeque a estabilidade das ruínas arquitetônicas com sua configuração vertical e fálica, metáfora visual de masculinidade.

Esta relação entre estruturas arquitetônicas e imagem do corpo configura uma composição que evidencia a impossibilidade de vedar as possibilidades de representação, a partir de uma proposta de viés artístico, das mutações no comportamento e interpretação de costumes e modos de agir. Isso faz da série de fotografias um documento visual que contradiz normas de convivência culturalmente aceitas conforme as tradições, que são avaliadas por outras culturas como rígidas e incompreensíveis. A série constitui, assim, um manifesto de discussão sobre a assimilação e interpretação da cultura do Outro.

A inserção da imagem feminina traz à tona uma transparência leve e romântica que se entrelaça e escorrega na composição gráfica e pictórica. As imagens são projetadas numa flutuação que, no conjunto, constitui frames de um filme de uma dança corpórea e sequencial, espacialmente repetitiva, que transita por todas as peças e se estrutura como uma peça única. Movimentos que, congelados no suporte fotográfico, ressaltam a liberdade corpórea, as possibilidades rítmicas sugeridas visualmente e manifestas nas vibrações e emoções provocadas no espectador, tendo como referência as vivências musicais individuais.

Na transparência da imagem feminina dilui-se a diferença entre abstração e figurativismo. Ela penetra e se dissolve em cada interstício das ruínas, constituindo, mesmo na sua transparência, uma parte essencial do conjunto representado. Como parte da composição, a imagem consolida e defende seu território, tentando demonstrar, como uma janela aberta para fora e a partir de uma outra visão cultural, que a fragilidade é um elemento imprescindível na construção da cultura e no desenvolvimento social. Sem a fragilidade disfarçada pelos outros, a impossibilidade do todo seria evidente.

Bisacchi sugere, assim, uma relação estrutural na composição e na representação carregada de simbolismos, mistérios, ao mesmo tempo em que propõe um enlace de intimidade e reciprocidade nas relações entre as imagens.

Nas obras da artista, há uma manifesta atemporalidade na representação. As imagens que inspiram eternidade misturam-se à representação feminina do desejo. E, ao mesmo tempo, esse desejo representado evidencia uma necessidade de sobrevivência e permanência. O presente frágil dentro do passado simuladamente eterno, desgastado por fatores naturais ou pela ação, direta ou indireta, do homem. Há uma permanente mistura entre presente e passado, e uma profunda aura de significados e mensagens.

A artista oferece uma relação entre a presença e a ausência, entre a imagem reconhecível e realidade imaginável, que se revela em uma representação particular carregada de significados, intensidade e profundidade estética e conceitual.

Na série de fotografias, a artista estrutura uma montagem visual de um quebra-cabeça ilustrado de significados e metáforas. Ilustrações que estabelecem uma continuidade entre o âmbito natural e a interferência do homem neste, e entre as relações do próprio homem, oferecendo-nos ferramentas visuais que possibilitam estabelecer uma relação entre arte e vida. Com um matiz de qualidade indiscutível, Bisacchi reverencia o luxo na forma de representação da lucidez retrospectiva misturada com a realidade presente, num manifesto artístico único.

Andrés I. M. Hernández
Mestre em artes visuais
Curador e produtor